sexta-feira, dezembro 03, 2004

A Comunicação no Sistema Politico

Qual a razão principal de um sistema politico em queda?

Eu afirmo que é um problema grave de falta de COMUNICAÇÃO, sim falta de um bom modelo de comunicação entre ministérios, na relação com os meios de comunicação social e acima de tudo na comunicação com os eleitores.

As trapalhadas, como se chamam agora os erros governamentais, são facilmente postas a nu se os políticos tiverem a coragem politica para levarem a comunicação a sério.

No meu ponto de vista, e posso estar enganado, não existe em Portugal uma boa gestão da comunicação governamental e os gabinetes de imagem, comunicação social e até mesmo de relações públicas são facilmente abafados pela sede de poder politico e pela vontade de ter protagonismo na sociedade.

Se eu fosse amigo de um Primeiro Ministro, uma das primeiras medidas que eu lhe proporia seria a criação de um verdadeiro Departamento de Relações Públicas, neste existiriam vários gabinetes a trabalhar em conjunto, o de protocolo, marketing, comunicação social e imagem.

Este departamento ficaria responsável pelo tratamento de toda a comunicação governamental, acabando deste modo com a grande diversidade de gabinetes existentes em todos os ministérios, a comunicação a sair de todos os ministérios seria tratada e devidamente elaborada para que o governo falasse a uma só voz acabando deste modo com as contradições entre ministros e até com o próprio primeiro ministro.

Isto pode parecer uma utopia, mas não iria ser assim tão complicado, pois bastaria que fossem contratados funcionários independentes com experiência em comunicação financeira e económica, ambiental, turística, etc. e um ou dois técnicos apoiados por trabalhadores administrativos por área governamental seria suficiente.

Talvez eu não esteja a ver bem o trabalho dentro de um ministério, até pode ser, e talvez fossem necessários mais técnicos por área, mas não é difícil constatar que o actual modelo não é funcional, pelo que uma centralização de toda a comunicação era mais rentável para a persecução dos objectivos de governo.

Os políticos têm de se centrar mais no que devem realmente fazer, governar, e quando falo em governar não me refiro só ao Governo porque a nossa administração local também não está muito bem neste capitulo.

Os nossos políticos pensam que nasceram com o dom da oratória, e que por isso mesmo têm de ser eles a contar tudo ao povo, a sua imagem a frente da imagem institucional, sim este parece ser o lema dos nossos actuais políticos.

No governo assistimos a uma grande panóplia de Advogados ou Juristas, a enveredarem por áreas para as quais não estão minimamente habilitados e tomam conta de ministérios como saúde, educação, agricultura e até mesmo turismo como se fossem grandes entendidos na matéria e que para eles tudo são favas contadas, mas as coisas não são bem assim e por isso mesmo eu sou a favor de um governo tecnocrata, onde cada ministro tem formação académica na área em que está a operar.

Mas se nos Governos os ministros ainda vão tendo formação em direito, economia, etc. nas câmaras municipais as coisas não são bem assim e nestas as coisas chegam a ser mais bizarras.

Um presidente de câmara pensa que só porque trata de uma região mais pequena, não importa a comunicação que é feita e que os “saloios” da terrinha vão comer tudo aquilo que lhes dizem, depois dentro dos seus organismos, como se não tivessem mais nada que fazer preocupam-se com todas as pequenas coisas como se fossem assuntos de importância extrema, enquanto os grandes problemas são deixados para trás.

Não existe nas câmaras uma real preocupação com o que se comunica, e os políticos não dão a liberdade que seria necessária às Divisões ou gabinetes de relações públicas para desenvolverem uma comunicação credível que em tudo beneficiaria a imagem da sua câmara como da sua própria governação.

O público interno das câmaras municipais é muitas das vezes esquecidos por que detém o poder nas câmaras (Presidente e Vereadores), para estes o seu cargo parece ser tão importante que todos os demais são meros funcionários a quem pagam miseravelmente, se compararmos com o sector privado, e que têm um papel secundário nas autarquias e outros organismos.
A motivação dos trabalhadores não é levada em conta, e estes sentem-se desinformados e colocados à margem do trabalho, não directamente ligado com os seus conteúdos funcionais, desenvolvido pelos políticos.

Não existe um aposta, que deveria ser forte, na comunicação interna, e desta forma os trabalhadores preferem vestir a pele dos “típicos” funcionários públicos e não se sentem ligados com a missão da autarquia, e quando existem ideias válidas para o desenvolvimento de mecanismos para uma melhoria neste tipo de comunicação, os políticos sentem-se mal com as ideias e preferem cortar as bases de trabalho, pois para estes os funcionários só ligam a uma coisa, mais dinheiro, e este os representantes locais não podem dar como querem, pois estão limitados pelas tabelas salariais da administração pública local.

O que fazer? Enquanto não existir uma mudança no pensamento dos políticos, enquanto não se apostar numa comunicação empresarial credível e responsável a governação vai continuar a ser denegrida com as “trapalhadas” que se cometem por falta de controlo da comunicação.
Talvez um dia se aposte na comunicação, e se dê o real valor à informação e ao que esta representa para quem elege os nossos representantes políticos.